Os Riscos da Humanização de Cães

Riscos da Humanização Em Cães

Os Riscos da Humanização de Cães

O comportamento canino é o resultado de uma mescla entre as condições do ambiente, as características herdadas geneticamente e as experiências vivenciadas pelo animal. Nos últimos anos, porém, temos percebido que os casos de transtornos de comportamento entre esses pets têm aumentado significativamente, como a síndrome da ansiedade da separação. A humanização de cães parece ser uma das principais causas.

“O estilo de vida dos seres humanos mudou significativamente nas últimas décadas e, junto a isso, o estilo de vida dos animais domésticos. Antigamente, grande parte da população costumava viver em casas e os cães podiam circular livremente pelos quintais e ruas, interagindo com indivíduos de mesma espécie ou de outras. Hoje, muitos pets vivem confinados e têm os seus tutores como o único contato social” – Dr. Adriano de Souza Neto, Médico veterinário (CRMV-SC 4404).

Abaixo, os profissionais da Vet Village explicam como acontece o desenvolvimento natural destes pets, os malefícios e a prevenção da humanização de cães e da síndrome da ansiedade da separação.

Desenvolvimento Canino

Assim como os seres humanos, os cães também passam por diversas etapas importantes de desenvolvimento até chegar à fase adulta. Não permitir que o animal viva todo esse processo pode ter consequências graves.

“Os cães têm instinto de matilha. No entanto, os pets que são retirados muito cedo do contato com a mãe e com os irmãos não têm tempo de viver experiências importantes, e não aprendem a como ser um cão e qual o seu lugar na matilha. Eles passam a viver com famílias humanas e estão mais sujeitos aos riscos da humanização de cães” – Drª Suzana Ribeiro Matsumoto, Médica Veterinária (CRMV-SC 3824).

De acordo com pesquisadores como Heiblum e Fatjó (2013), o desenvolvimento social canino é categorizado em cinco estágios:

Neonatal (nascimento até 13 dias):

Fase em que o filhote é extremamente dependente da mãe e seus comportamentos são reflexo da relação filhote-mãe.

Transição (13 a 19 dias):

Há desenvolvimento neurológico verificado pela abertura dos olhos, ouvidos e pelo aumento da exploração da área que o animal habita. Acontecem as primeiras atividades lúdicas voluntárias.

Socialização (19 a 84 dias):

É o período mais importante de desenvolvimento do filhote. Nessa fase acontece a interação com os irmãos e a maior exploração do ambiente. O contato com animais de outras espécies (inclusive humana), odores e sons é muito importante para o desenvolvimento emocional. Tais estímulos geram uma relação direta com as manifestações comportamentais futuras. É nessa fase que o filhote aprende o funcionamento de hierarquias e dinâmicas sociais. Isso é fundamental para relacionamentos equilibrados e para o bem estar do próprio cão.

Juvenil (84 dias até maturidade sexual):

Fase de extensão da socialização. Aqui, os estímulos ambientais e de convivência com animais de outras espécies também é importante. No período juvenil, o processo de inserção social surge de forma lúdica, iniciando assim experimentações de posição social/hierarquização. Durante essas interações, somadas a suas experiências, o cão irá moldar seus comportamentos e temperamento na fase adulta.

Adulto (maturidade sexual em diante):

Período de maturidade social que se manifesta pela ritualização com os membros do grupo, estabelecimento de relações hierárquicas e marcação territorial. Após os dois anos de idade os animais estão plenamente maduros, apresentando diminuição nas interações lúdicas e determinando a organização social.

Humanização de Cães

Uma vez retirados do convívio da mãe e dos irmãos desde cedo, os cães perdem grande parte das experiências citadas anteriormente e, assim, a própria referência de comportamento. Apesar disso, o instinto de matilha, desenvolvido ao longo de milhares de anos pela espécie, persiste. Mas, em vez de aprender com outros cães a se comportar e a ter equilíbrio emocional, o pet irá retirar esse aprendizado da família humana. E esse é o primeiro passo para a humanização de cães.

Síndrome da Ansiedade da Separação

Hoje, é comum recebermos animais que são tratados e que foram criados como pessoas. Eles dormem com os tutores, comem na presença deles e estão sempre ao seu lado. Assim, quando os humanos precisam se separar de alguma forma – seja por trabalho ou por compromissos sociais – os cães sofrem bastante. Eles não conseguem compreender que isso é normal. Não foram ensinados a ter a própria rotina, o próprio tempo e espaço.

Esse tipo de transtorno de comportamento é conhecido como síndrome da ansiedade da separação. Cães saudáveis emocionalmente, que reconhecem o seu espaço, tempo e rotina, costumam esperar os donos voltarem para casa por no máximo 10 minutos após a saída deles. Já os cães com a síndrome da ansiedade da separação, na ausência dos tutores, podem latir horas sem parar.

“A síndrome da ansiedade da separação é uma das consequências da humanização de cães. Muitos animais percebem que os tutores estão se preparando para sair e começam a ficar agitados. Eles não entendem por que a sua matilha está o abandonando” – Dr. Adriano de Souza Neto, Médico veterinário (CRMV-SC 4404).

Alguns animais com síndrome da ansiedade da separação chegam a vomitar e a sofrer convulsões. Muitos destroem móveis e objetos por estresse. Fazem as necessidades em locais que não deviam para chamar a atenção” – Drª Suzana Ribeiro Matsumoto, Médica Veterinária (CRMV-SC 3824).

Em resumo, a síndrome da ansiedade da separação pode provocar:

  • Agitação, latidos e uivos incessantes por horas;
  • Vômitos e convulsões;
  • Necessidades em locais inapropriados;
  • Coceiras e lambidas em excesso (até ferir a própria pele);
  • Automutilação.

Como evitar a humanização de cães?

Para evitar a humanização de cães  – e todos os transtornos de comportamento causados por ela – é preciso respeitar o desenvolvimento e as características dos animais.

Evite adotar filhotes com menos de 4 meses de vida:

O ideal é que o cão passe esse período com a mãe e com os irmãos. Os pets devem socializar com animais da mesma espécie e de espécies diferentes.

Ofereça condições para que o cão possa manifestar seu comportamento natural:

Alguns cães com temperamento mais tranquilo adaptam-se melhor em ambientes como apartamentos. Outros, como o Labrador, o Golden Retriever e o Border Collie necessitam de muito espaço para correr, caçar e brincar. A privação desses comportamentos pode causar diversos transtornos.

Treine o seu cão:

É muito importante que o seu pet aprenda desde cedo a ser independente, a ter o próprio tempo e espaço. Dessa forma, ele fica mais seguro e sofre menos com as mudanças do dia a dia.

“É importante que o cão conheça os seus limites e que ele saiba que existe hora e local para tudo: para as brincadeiras, para o carinho e, inclusive, para ficar sozinho. Os cães que não são treinados para isso carregam consigo instintos fortes de matilha que, em contato com a rotina humana, geram conflitos e transtornos de comportamento” – Drª Suzana Ribeiro Matsumoto, Médica Veterinária (CRMV-SC 3824).

É importante evitar também o uso de acessórios e a oferta de comidas que levam à humanização de cães.

“Os cães não estão acostumados com perfumes, que podem intoxicar e provocar alergias. As roupinhas também podem fazer mal: elas podem abafar a pele, causar alergias e ressecamento. Alimentos industrializados e gordurosos, e que os humanos toleram bem como chocolate e biscoitos recheados, podem provocar problemas neurológicos graves, pancreatite e outras doenças” – Dr. Adriano de Souza Neto, Médico veterinário (CRMV-SC 4404).

Cuide da saúde do seu cão. Consulte o médico veterinário com frequência e informe-se sobre os perigos da Humanização de cães. Na Vet Village, o seu amigo recebe a atenção e o cuidado que merece.